segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Não preciso que me ames

Gostava de ter a faculdade de bem usar as palavras. Conseguir transformar o meu íntimo num conjunto perfeito de letras verdadeiras.
Mas não consigo. Todas as tentativas que faço parecem-me sempre demasiado simples, banais e muitas vezes sem sentido algum.
Não pretendo armar-me em poeta, romancista ou seja o que for. Na minha ignorância de palavras vou tentar expressar apenas aquilo que sou eu.
Por vezes desconfio da minha sanidade mental. Serei, de facto, louca ou terei apenas uma imaginação demasiado fértil? Não é preciso muito para me deslocar para outra dimensão, para me sentir num mundo completamente paralelo.
Um mundo que foste tu que criaste. Sem ti ele não existiria.
Nunca esperei voltar a sentir isto… Ou melhor, agora percebo que nunca deixei de o sentir. Este sentimento sempre aqui esteve. Adormecido, talvez, mas nunca esquecido.
No dia em que partiste senti que nada ia voltar a ser o mesmo. E não foi.
Vivia os dias na esperança de um sinal… era tudo o que queria. Um sinal que me mostrasse que eu não tinha caído no esquecimento. Que me fizesse acreditar que nada daquilo que era agora passado, teria sido para ti um erro.

Se doeu? Muito.

Obriguei-me a mim mesma a tentar esquecer-te. De que valia continuar a pensar em ti, a imaginar que ias voltar, se provavelmente já nem te lembravas do meu nome? Não merecias isso. Não merecias nem mais uma lágrima minha. Nem mais um segundo dentro do meu pensamento. Tinha de te tirar de lá.
Então, os dias transformaram-se em meses. Agora, tinha a certeza de que tudo teria sido um erro. Quem fui eu para ti? Apenas alguém que conheceste. Alguém igual a tantas outras pessoas que podias ter conhecido. Não fui diferente. Não te marquei ao ponto de sentires a minha falta.
A ideia de que me tinhas esquecido e que nunca mais te iria ver consumia-me por dentro. Arrepiava-me cada vez que tal coisa me ocorria. Mas era nisso que acreditava. Para ti, eu já não existia mais. Acreditei que tínhamos criado uma amizade, que podia afirmar que éramos amigos. Mas os amigos não fazem estas coisas. Não nos ignoram. Os amigos não nos esquecem.

Se doeu? Imenso.

Anos. Passaram-se anos.
Tentei esquecer-te. Falhei.
A tua presença no meu pensamento ficava cada vez mais ténue. Era quase como uma suave brisa que mal sentimos nos dias quentes de Verão.
No entanto essa brisa facilmente se transformava em recordações bastante fortes.
Sempre que pensava que estava a conseguir desviar-me de ti havia algo que me puxava para o teu caminho.
Mas agora era diferente. Tinha deixado de acreditar, de vez, que te ia voltar a ver. Serias, agora, uma simples recordação. Então, sempre que invadias o meu pensamento accionava a minha defesa. “Ele faz parte do passado... porque continuas a pensar nele? Gostaste muito dele como nunca gostaste de ninguém. Mas agora gostas de outra pessoa. Não és feliz? Não faz sentido pensar em quem te magoou tão intensamente. Pára. Não penses. Esquece.
De uma vez por todas, esquece.”
E esquecia por breves instantes. Muito breves. Demasiado breves...
Arranjavas sempre maneira de voltar.
Uma vez ou outra, os nossos caminhos cruzaram-se.
Tomei coragem e falei-te. Olhaste para mim e o chão, que no início não era seguro, deixou de existir por completo. Flutuei.
Todas as barreiras que criei ao longo dos anos para evitar que me consumisses o pensamento, tinham sido agora quebradas.
Eu tentei. Tentei esquecer-te e por vezes pensei que o tinha conseguido. Forcei-me de tal maneira a acreditar que já não sentia nada por ti e que me eras indiferente que acabou por resultar.
Durante todo este tempo acreditei que o sentimento tinha morrido. Que eras apenas uma imagem do passado.
Quando te vi apercebi-me do quanto estava errada. Tentei negá-lo mas lá no fundo sabia muito bem do que se passava.
Nada tinha morrido. Muito pelo contrário.
O tempo continuou a passar e no meu pensamento lá estavas tu. Recordava-te tal e qual como da última vez que te tinha visto.
Foi então que, quando menos esperava, as nossas vidas voltaram a partilhar o mesmo caminho.
Não andávamos mais em trilhos separados. Finalmente tinha-te encontrado e nada parecia ter mudado.
Encontrámo-nos...
Fui ter contigo e senti que estava a pisar algodão.
Lá estavas tu… igual.
Adorei.
Entreguei-me de uma maneira que nem eu consigo explicar. Tudo parece perfeito.
Por breves momentos somos um.
Sei que vivo estes momentos com mais intensidade que tu pois o sentimento que nos une é bastante diferente.
E é nestes momentos que me sou obrigada a partir para outra dimensão. Tenho de separar-te do resto que me rodeia.
Procuro viver cada segundo intensamente de maneira a que o torne inesquecível e diferente de todos os outros. É como se tivesse duas vidas. Numa sou fingidora dos sentimentos, noutra sou completamente transparente.
Não é fácil, mas, entre isto ou não te ter prefiro sujeitar-me aos perigos de ter duas vidas.

Sim. Tudo seria mais fácil se não existisses na minha vida.
Não teria de passar os dias contigo no pensamento nem a imaginar quando seria a próxima vez que nos iramos ver.
Não teria de fingir sentimentos que não tenho e nem me obrigaria a sorrir quando a vontade não é nenhuma.
Se não existisses, não teria de viver os meus dias com este sentimento constante que me consome de maneira tão intensa que chega a doer.
Não teria de passar horas a lamentar-me por saber que nunca, mas nunca mesmo, vou poder ter-te verdadeiramente. Ter-te como outra pessoa te tem.
Tudo ficaria mais fácil se não tivesse de lidar com este sentimento tão forte que não pode ser correspondido.
Sim, talvez as coisas fossem mais fáceis pra mim se não existisses…
Mas iria eu saber viver sem ti?
Nada disto tem importância quando comparado ao facto de não te ter.
Pouco me importa as horas que perco com lamentações ou com fantasias que nunca se vão realizar.
Eu não preciso que me ames. Fico imensamente feliz só por saber que não me esqueceste.
Quero amar-te da maneira mais intensa que alguém pode amar e queria que me desejasses do mesmo modo. Mas não posso ter isso.
É tudo o que mais quero, foi tudo o que sempre quis, mas sei que posso encontrar a felicidade noutras coisas que existem em ti. Amar é, neste caso, apenas um pormenor.
Se me amasses seria mais uma coisa que teríamos em comum.
Mas há outros pormenores em ti que me fazem feliz. Pequenas coisas que dizes. Gestos. Olhares. Por isso, apesar de ser aquilo que mais quero nesta vida, não preciso que me ames.
Fazes-me feliz de outras maneiras.

E é isto que eu sou.
100% tu… em todas as horas, em todas as ocasiões, em todos os momentos do dia.
Tu.
Se dói? Um pouco… mas não me importo. É o que move os meus dias e sou feliz na minha infelicidade.
Obrigado por não te teres esquecido, por teres permitido que entrasse novamente nos teus caminhos.
Caminhos esses que são paralelos mas o importante é que consigo entrar neles.
Se voltares a partir peço-te que me prepares para tal acontecimento.
Não prometo que vou compreender as tuas razões mas vou continuar a amar-te na tua desião.

Se vai doer? Sim...descomunalmente.

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